Dia do Orgulho
O mês de junho carrega cores, lutas e muitas histórias de resistência. No Habblet Hotel, esse espírito se materializou na criação da Galeria da Orgulho, um espaço virtual que homenageia e eterniza as vozes LGBTQIAPN+ da comunidade. A galeria foi idealizada para ser um ambiente de memória, acolhimento e visibilidade. E, para dar vida a essa ideia, promovemos uma entrevista especial com membros da comunidade que compartilharam suas trajetórias com coragem e autenticidade.
É com muito orgulho que convidamos você para mergulhar nessas histórias e refletir sobre a importância de existirmos com verdade, afeto e liberdade.
Me identifico como Lésbica
Desde pequena, eu já carregava traços que me diferenciavam , enquanto outras meninas sonhavam com contos de fadas, maquiagem e barbies, eu era da cartinha, do skate, da bola e das roupas largas. Nunca foi por influência, era algo natural. Mas, mesmo sendo tão nova, minha família já tentava me moldar ao que a sociedade espera de uma "menininha".
Com nove anos, eu não entendia por que meu coração batia mais forte pela minha melhor amiga do que por qualquer garoto. Nunca vivi aquela fase de "namorar um menino", nunca tive vontade. Mas ao crescer, comecei a perceber como o mundo era cruel com quem era como eu. O preconceito, a rejeição, o medo de decepcionar minha família, tudo isso me fez me esconder, me forçar a viver algo que eu não era. Tentei até beijar garotos, só pra me encaixar.
Foram anos difíceis, em que chorei, me perdi e até tentei contra a minha vida. Eu vivia apagada, com medo de brilhar. Mas um dia eu entendi: a Ingrid é um ser humano lindo, puro, e amar garotas não me faz menor do que ninguém. Quando aceitei isso, vi um mundo novo se abrir.
Me assumir como lésbica, depois de me forçar a acreditar que era bi, foi libertador. Tive apoio de primos, de amigos e, principalmente, encontrei em mim mesma a coragem de ser quem eu sou. Hoje, não deixo mais que ninguém apague quem sou ou me coloque numa caixinha. Meu amor é único, e eu também sou.
Você que está se descobrindo, quero dizer: não desista de você. O preconceito infelizmente existe, e pode te machucar, mas ele não define quem você é , e ele não vai vencer. Esse processo pode ser confuso, doloroso às vezes, mas também é libertador. Quando passar, tudo vai ficar mais claro, mais leve, mais acolhedor.
Então, se fortaleça. Seja sua própria armadura. Cuide de si com carinho, se abrace nas suas dúvidas e celebre cada passo do seu caminho. O amor-próprio, o autocuidado e uma mente firme são suas maiores armas contra qualquer mal que tentem te causar. Você é válido, você é necessário, e o mundo precisa da sua verdade. Continue. Você não está só.
Gostaria de ver uma sociedade mais acolhedora, onde o respeito e a empatia estejam acima de preconceitos e estigmas. É essencial que todas as pessoas LGBTQIAPN+ possam viver com segurança, dignidade e liberdade de serem quem são, sem medo de violência, discriminação ou exclusão. Sonho com uma educação que ensine desde cedo sobre diversidade, igualdade e direitos humanos, para que futuras gerações cresçam compreendendo e valorizando as diferenças. Também desejo políticas públicas mais eficazes para garantir saúde, trabalho, moradia e representatividade para essa comunidade. A mudança começa com o reconhecimento de que todos merecem amor, respeito e oportunidades iguais.
Desde criança, eu me sentia diferente das outras pessoas, mas não sabia exatamente por quê. Nunca me senti pertencente ao meu corpo, sempre tive trejeitos femininos, era delicada, e isso me causava uma confusão interna enorme. Passei meses em terapia achando que havia algo de errado comigo, tentando entender o motivo de não conseguir me encontrar. Nunca achava a resposta... até que uma amiga trans me apresentou informações, referências e conversou comigo com muita empatia. Foi aí que entendi: eu não nasci para ser quem me designaram ao nascer. Eu odiava me olhar no espelho e não me reconhecer. Com a ajuda dela, percebi que não havia nada de errado comigo, apenas não nasci no corpo certo. A partir daí, comecei a afirmar minha identidade de gênero com mais certeza.
Sim! O primeiro foi a conversa com essa amiga trans que me acolheu e me fez perceber que eu não era um problema. Mas também lembro com muito carinho do dia em que, ainda criança, fiz minha primeira maquiagem. Foi um momento mágico: me senti bem, confortável e feliz comigo mesma. Pela primeira vez, consegui me olhar no espelho e me reconhecer.
Foi parar de dar tanta importância ao que os outros pensavam de mim. Sempre busquei aceitação e validação das pessoas, o medo da rejeição era enorme. Mas percebi que eu não precisava disso pra ser feliz. Ainda estou aprendendo a me bastar, mas aceitar que a minha existência é válida já foi um passo gigante.
Sem dúvida, a aceitação da minha família. Até hoje, enfrento dificuldades com isso. Venho de uma família religiosa e com visões muito rígidas, o que torna tudo ainda mais difícil. Tive que lidar com muita pressão emocional, comentários duros e a sensação de não ser aceita no meu próprio lar. Esse foi o maior desafio pra mim.
Sim, minha amiga trans teve um papel essencial no meu processo. Além dela, algumas amizades e familiares que me acolheram com amor e respeito fizeram total diferença.
Essa pergunta toca num ponto bem sensível. A verdade é que eu não sei lidar muito bem com isso... convivo com a disforia praticamente 24 horas por dia. É uma luta constante. Tem dias melhores, mas outros são bem difíceis. Estou aprendendo, aos poucos, a me acolher mais, mas ainda é um processo delicado.
"Respeite o seu tempo. Não tenha pressa, viva o processo.” É isso que eu digo hoje pra quem está começando a transição, e é o que eu gostaria de ter escutado. A ansiedade para "ser logo" quem somos pode atropelar vivências importantes.
Significa reafirmação da minha identidade, da minha existência e da minha voz. É um dia pra mostrar que não somos invisíveis e que merecemos respeito. Mas também acredito que todo dia é dia de orgulho. Estar viva e sendo quem sou já é um ato político.
Sim. Uma frase da Jules, personagem trans da série Euphoria:
“Eu acho que eu quero ser tão linda quanto o mar, porque o mar é forte pra cacete e feminino pra cacete, e essas duas coisas fazem o mar, o mar.” Essa frase me representa demais, porque o mar, pra mim, simboliza beleza, força e feminilidade. E como mulher trans, essas três coisas caminham juntas, mesmo que o mundo tente nos dizer o contrário.
Sim, encontrei sim. Lá eu conheci pessoas incríveis e espaços onde me senti confortável, acolhida e respeitada. Levo muitos desses laços pra vida.
Toda representatividade importa. Ver pessoas como eu em espaços de destaque, vivendo com dignidade, sendo respeitadas, isso tem um impacto imenso. A representatividade me dá força e esperança.
Sim. Nem tudo é como parece. Muita gente me vê como uma pessoa positiva e acha que tudo é fácil pra mim, mas não é. Eu luto todos os dias pra existir. Ser uma travesti no Brasil é sobreviver o tempo todo, e essa luta é muito solitária às vezes.
Sim, muitas vezes. Seja pela família, seja por pessoas ao meu redor, já me senti obrigada a me encaixar em padrões que não me representavam. E isso é extremamente desgastante, porque nos afasta da nossa essência.
Se descobrir pode ser confuso, assustador, mas também é libertador. Vá com calma, respeite o seu tempo. Não existe um jeito certo de ser quem você é. Sua identidade e sua sexualidade são válidas. Você merece viver com verdade e dignidade.
É libertador. Hoje eu posso ser quem sempre sonhei ser. Não é fácil, mas é real, é meu, e isso não tem preço.
Respeito. Ainda vivemos numa sociedade que nos trata como inferiores, que nos marginaliza. Precisamos de leis igualitárias, de segurança, de visibilidade e de dignidade. Nós somos pessoas, temos direitos e não vamos mais aceitar sermos tratadas como invisíveis.
Sim, muito. Minha trajetória me moldou, me fortaleceu. Tudo que vivi me preparou para ser quem sou hoje. Tive que criar uma armadura pra continuar de pé, e isso me dá orgulho. Porque eu sei o quanto lutei pra estar aqui.
Eu diria: “Não ultrapasse seus limites por aprovação. Não se violente tentando se encaixar. Você merece amor e respeito do jeitinho que você é. Vai com calma, tudo vai acontecer no tempo certo.”
Força. Ser eu é resistir todos os dias. É viver com coragem em um mundo que tenta apagar minha existência. É carregar dor, mas também orgulho. E mesmo com tudo isso, continuar aqui, viva, firme e com brilho nos olhos.
Que desafios e responsabilidades únicas essa posição te trouxe?
Olha, se eu disser que foi uma tarefa fácil, estaria mentindo pra mim mesma. Ser uma mulher trans com um cargo de responsabilidade no Habblet foi e ainda é um grande desafio. Apesar de ser um ambiente virtual, a transfobia e o preconceito continuam existindo, e isso é algo que afeta diretamente nossa vivência. Como moderadora, eu precisava manter uma postura séria, lidar com pressões diárias e manter o psicológico em dia mesmo quando recebia ataques simplesmente por estar fazendo meu trabalho. Muitas pessoas não aceitam ver uma mulher trans em uma posição de autoridade, e isso se traduz em comentários carregados de ódio, transfobia e tentativas de deslegitimar minha presença. Mesmo assim, sempre me senti responsável por ser uma presença visível e atuante. Busquei promover igualdade, diálogo e mostrar que eu também tenho voz. Às vezes, manter essa postura firme cansa, claro, mas se a gente se deixa levar pelo negativo, nunca vai conseguir brilhar como merece. Então, eu vesti a minha camisa de força, levantei a cabeça e segui em frente, pois jamais deixaria alguém acabar com meu dia.
preconceito dentro da comunidade do jogo?
Esse é um ponto bem delicado, mas necessário. O cargo de moderadora traz sim uma certa autoridade e visibilidade mas isso nem sempre significa proteção. Na verdade, me expôs muito mais ao preconceito. Existe uma falsa ideia de que estar no "poder" te blinda de tudo, mas na prática não é bem assim. Atrás dos avatares estão pessoas reais, com intenções reais e algumas delas usam o virtual para espalhar ódio. E quando você é uma mulher trans em um cargo de destaque, vira um alvo fácil. Já me vi em situações em que ataques vieram de todos os lados, e não só dentro do jogo, mas fora dele também. Infelizmente, ser visível às vezes também significa estar vulnerável (não que você precise ser invísivel, mas apenas saiba que você não está imune a nada).
ou por ter ajudado a resolver? Pode compartilhar como isso aconteceu e qual foi o impacto disso para você?
Sim, teve um caso que me marcou profundamente, até hoje carrego isso como uma cicatriz. Foi algo que ultrapassou um pouco os limites. Um grupo de pessoas, que prefiro não citar, passou meses criando quartos ofensivos, fazendo alusão a coisas horríveis. Usavam bots com meu nome em fogueiras, queimavam a bandeira trans e faziam questão de me atingir como pessoa, não apenas como moderadora. E não parou por aí. Começaram a mandar mensagens para amigos e conhecidos meus dentro do Habblet, com ameaças e falas extremamente ofensivas. Aquilo me desestabilizou. Senti medo, impotência e muita tristeza. Ver esse tipo de ódio sendo direcionado a quem você é, por algo que você não escolheu, que é a sua identidade é algo que machuca de um jeito que palavras não explicam. Esse episódio me fez repensar muita coisa, mas também reforçou minha força. Porque, mesmo com tudo isso, eu segui. E sigo. Porque eu sei o quanto é importante ocupar esses espaços, mostrar que a gente existe e resiste, temos vozes e sempre irei fazer de tudo para lutar não só por mim, e sim por todos pois eu quero deixar um espaço mais seguro e com igualdade a todos que virão.
Foi algo que demorou uns anos, pois eu olho para trás e vejo que talvez tivesse a ideia desde que era criança, mas com a inocência e o facto de viver num meio conservador em relação à nossa comunidade LGBTQIAPN+, em que havia muita homofobia nessa época (eu tenho 28 anos, então meio que podem entender o nível de homofobia comparado à atualidade..), então eu demorei muito a perceber que também gostava de meninas, além de meninos. Por volta dos 13 até aos 15 acabei por me descobrir melhor, graças à série Glee (quem viveu sabe kkkk) e a coisas na minha vida escolar, amizades, entre outras. Aos 16 aceitei-me como sou, bissexual, mas só aos 18 anos que contei às pessoas mais próximas na real.
Sim, acabando por criar amizades incríveis com quem faz parte da mesma. Mas claro que vai sempre ter pessoas preconceituosas no jogo, fora ou dentro da comunidade, o que nos pode deixar para baixo… Mas nós somos mais fortes que eles e unidos ainda mais. E o que devemos fazer para que o preconceito não exista no jogo é denunciar os que o cometem, educar os que realmente querem mudar e nunca deixar que nos calem.
A representatividade em séries e filmes. E, claro, que tinha de mencionar a série que realmente fez muita diferença na minha vida: Glee. Ao olhar para o casal Brittany e Santana, a trajetória e a história delas, fez com que eu me aceitasse como sou, principalmente a personagem Santana (retratada pela atriz Naya Rivera e que nunca será esquecida pelo seu legado e amor, mesmo já não estando entre nós). A história dela ajudou-me muito ao longo dos anos que a série esteve no ar, fora a mensagens que trouxeram para o mundo, tornando-o melhor, como a inclusão, aceitação, diversidade, o valor que devemos dar a quem está com a gente em momentos baixos, quem realmente é a nossa família, entre tantas coisas.
Esse é aquele tipo de pergunta que não tem como dizer não. Seja um familiar ou desconhecido, vai sempre haver um momento que sentimos a pressão de “fingir” algo que não somos. Infelizmente ainda vivemos num mundo que existe preconceito, o que agora está a aumentar com o extremismo da direita, o que vemos diariamente em todos os países, com certos partidos conservadores ao extremo, em que várias pessoas estão a começar a andar em modo retrógrado, em relação ao seu pensamento, acabando pelo mundo ir para o lado contrário da paz.
Diria: Sê quem tu realmente és, uma menina forte e lutadora. Tu és normal e não o que a sociedade pinta como um monstro. Gostar de ambos os gêneros é algo bonito, que não tens de ter vergonha e sim teres orgulho, pois quem olha para nós como algo repugnante não tem coração, não sabe o que é amor de verdade, é alguém que não sabe lidar com ela mesma, com as suas frustrações, o que é ser livre e tu mereces o mundo.
Me identifico como gay.
Para mim, o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ é muito mais do que uma celebração: é um grito de liberdade. É a afirmação de que temos o direito de existir plenamente, com verdade, afeto e brilho. É um momento de resistência, mas também de alegria, de visibilidade e de conexão com quem somos de fato. Nesse dia, a gente lembra que amar e ser quem somos nunca deveria ter sido motivo de medo mas sim de orgulho.
Teve alguém que fez diferença nesse caminho? Duas pessoas tiveram um impacto profundo na minha trajetória. A primeira é o Papa Francisco. Sempre vivi minha fé com intensidade, sou católico praticante e, por isso, as falas duras que ouvi de alguns sacerdotes sobre minha identidade pesaram muito. Mas em meio a tudo isso, encontrei consolo em palavras de acolhimento, principalmente na postura do Papa, que reflete o verdadeiro espírito cristão: um olhar de compaixão, inclusão e amor incondicional. Foi através dele que consegui enxergar que Deus não me rejeita; Ele me ama exatamente como sou. A segunda é Beyoncé, uma mulher que não apenas transformou a música mas também me ajudou a me enxergar com mais orgulho. A turnê Renaissance foi um verdadeiro manifesto de amor à comunidade LGBTQIAPN+, uma celebração vibrante da cultura queer, negra e livre. Mais do que um show, foi um espaço onde me senti representado, pertencente, valorizado. Ela usa sua arte para dizer ao mundo que nossas vidas importam. E isso muda tudo.
Eu diria, com toda a certeza do mundo: Deus te ama. Não apesar de quem você é mas exatamente por quem você é. A Igreja é conduzida por homens, e os homens podem errar. Mas Deus não erra. Ele é perfeito, e me fez assim. Ele não comete equívocos na criação. Você não está quebrado, nem perdido. Você é amado, inteiro e digno. E o amor Dele é a verdade mais poderosa que existe.
Muita das vezes não é um processo que você descobre sozinho, a sociedade em geral, força você a se descobrir ou se negar apartir do momento que percebem algo diferente em você, e comigo não foi diferente. Foi um processo doloroso, de muita auto-negação e culpa. Esconder nosso jeito de ser e quem a gente sente atração é algo sufocante, o que custou muito a minha saúde mental. Eu fico feliz que hoje as pessoas têm informações sobre o que são e como devem se sentir. Talvez na minha época tenha me ajudado muito ter essas conversas. Porque quando eu descobri já era o começo da internet. Então as fontes eram escassas e as referências sempre vinham de um lugar pejorativo. Resumindo não foi um processo fácil, foi custoso, mas que me fez abrir os olhos pra quem sou, pra poder dizer hoje que sinto orgulho de mim!
Acho que enfrentar o bullying foi um dos maiores desafios nessa trajetória, foi uma violência na qual eu tive que passar sozinho, foi a coisa mais cruel que pude passar, a escola muitas vezes é um aparato de moer LGBT. Hoje entendo de onde vem essa repressão, e sendo milenial, me alivia muito saber que as coisas estão mudando pra essa nova geração, que vem com mais bagagem e mais apoio.
Alguém não, mas a internet, me deu um norte pra poder me entender e saber que eu não estava sozinho. Foi um alívio saber que não estava só, e que poderia ser ouvido por outras pessoas como eu.
Terapia e medicamento, falo isso sem vergonha, fazer acompanhamento psicológico não é nenhum demérito, e principalmente na nossa comunidade que é assolada por violência seja ela psicológica, verbal ou física... E eu tive que me obrigar a entender, que a gente não consegue lidar com as dores sozinho, que às vezes ajuda de um profissional, trás qualidade de vida e ajuda a gente a processar traumas decorrente de uma sociedade cruel e preconceituosa.
Que tudo ia se resolver, e que não deveria me preocupar porque o tempo e a dor são efêmeros, nada é estático, tudo pode mudar, para bem ou para mal. E que tá tudo bem ser quem se é. E não ter vergonha do processo
Me identifico bissexual! meme da Tulla Luana aqui
Confesso que foi meio difícil no começo. Eu sou bem bipolar às vezes quando penso sobre mim. Desde sempre já rolava um olhar diferente pros meninos, principalmente quando vi "Mamma Mia!" pela primeira vez e a cena de Lay All Your Love on Me me deixou a flor da pele. Na escola, me envolvi com várias meninas, mas no ensino médio esse olhar pros garotos foi ficando mais claro. Resolvi me permitir, experimentar, e foi aí que entendi: sou bissexual mesmo.
Por incrível que pareça minhas amizades mais próximas me ajudaram muito, ninguém ficou de fora e me deu total acolhimento e respeito, e isso faz total diferença!
Não importa quanto tempo isso leve, vai no seu tempo. No fim das contas, quem precisa se entender pra ser feliz é você!
Mekar
Me considero uma mulher cisgênero bissexual.
Desde pequena, eu questionava o padrão heterossexual, me perguntando por que era sempre homem e mulher, mãe e pai, príncipe e princesa. Na escola, já tive crush, menina, e sabia que eu sentia atração. Não por influência ou necessidade, mas simplesmente porque não via nada de não natural nisso. Eu não fui criada para recriminar esses sentimentos. Com um tempo, eu entrei num momento de confusão, sem saber se eu se quer gostava de homens, porque nunca tinha gostado profundamente de nenhum, mas após entrar num relacionamento com um por pressão, terminar, jurar repúdio a romance com homens, eu acabei sendo fraca e admitindo que sentia sim atração rsrs, assim me entendi como bi.
Honestamente, não foi tão difícil na minha experiência pessoal porque cresci com minha mãe, que não reprimia esse lado meu, e com meus amigos, que também sempre deram apoio. Nunca tive vergonha nenhuma de mostrar o que sou para ninguém, de comentar sobre o que sinto.
Se tornou mais difícil quando passei a morar com meu pai, que já não é tão de boa com isso. Não acho que ele seja o tipo de pessoa que vai me tirar de casa por isso, mas com certeza é uma pessoa que estranha, julga, nega, distorce e vê as pessoas homossexuais como anormais. Isso machuca muito. Até hoje não tenho coragem de contar para ele o que é a filha que ele tem. Sei que assim que atirar a primeira pedra, vai haver um ar muito ruim em casa. Acho que só muito no futuro, quando eu tiver meu espaço, estabilidade e minha própria vida, eu vou ter confiança para assumir isso para ele de peito cheio. Assim, vou saber que, mesmo com reprovação, terei um lugar para me aconchegar, sem receber olhares estranhos ou ouvir opiniões indevidas.
Acho que terminar o relacionamento foi um enorme passo. Eu era jovem, sou ainda jovem, pessoas jovens como eu têm que ser livres para explorar o mundo, ter experiências, não se enfiar em compromissos de gente mais velha, mais vivida, mais satisfeita. Ter saído dum relacionamento me fez conseguir ver tudo com mais clareza. Me fez ver que eu não precisava me apaixonar por ninguém tão cedo, que a minha juventude era o momento que eu tinha para focar em mim e nas minhas vontades e experiências, na minha jornada de descoberta e também de autoconfiança. Passei a me amar mais, me entender mais, me conhecer melhor.
Houve influências tanto do meu círculo social quanto de fora que me ajudaram muito. Primeiro, meu melhor amigo por sempre estar me dando conselhos, vendo as coisas com uma clareza que eu não veria. Em momentos de aperto emocional, geralmente nossa visão está turva por emoções, enquanto os nossos amigos conseguem ver de fora, sem os apegos emocionais, e entender melhor os fatos concretos. Outra pessoa foi uma youtuber que eu acompanho e admiro. Ela fez um vídeo sobre relacionamento que me fez entender muito melhor o que eu estava fazendo de certo e de errado, e inspirou decisões que eu tomei que contribuíram muito com meu descobrimento.
Dito isso, eu gostaria de dar um conselho. Não se pressione. Você não precisa saber já de cara como é rotular, não precisa ter certeza do que você gosta ou não, e não deve esse tipo de informação aos outros. Se você continua confuso, simplesmente relaxe. Se desapegue dos rótulos. Você não precisa se chamar de nada. Viva sua vida, goste de quem você acabar gostando, se relacione com quem você quiser, e um dia as coisas vão fazer mais sentido. Se você não sabe ainda do que gosta, não precisa ter ansiedade alguma. Não há desespero. Simplesmente se despreocupe disso, porque no final você pode viver a vida inteira sem um rótulo e ainda gostar de quem você quiser. 8. Não precisa, também, se pressionar para sentir amor, sentir atração, romance, não precisa se pressionar a entrar num relacionamento nem nada disso. Você não é incompleto sem um namorado ou namorada, você não é vazio sem romance, e você não vai morrer sozinho se estiver solteiro aos 15, 18, 25, 30, ou mais. Estar solteiro não é estar pela metade, e sim estar completo e competitivamente livre. Livre para estar sozinho e livre para buscar companhia. Livre para sair, ter encontros, ter paqueras, experimentar homens, experimentar mulheres, explorar a sexualidade e também explorar o seu 'eu íntimo'. Explorar quem você é sozinho, seus sentimentos, seus momentos, sua confiança. Entender a si é o primeiro passo.
Me identifico como bissexual
Foi meio engraçado pra mim, porque eu sempre soube que gostava tanto de homens quanto mulheres, desde muito jovem eu já gostava de ambos, digo até em personagens de séries, pessoas na minha vida que eu sentia atração, então nunca foi algo que mudou. Eu diria que a descoberta, pra mim, foi ver que não era "comum".
Acho que a parte mais desafiadora é a questão de as pessoas e as vezes até a própria comunidade não aceitar bem os bissexuais, por acharem que não é realmente algo real e sim algo temporário, como se a gente só tivesse brincando de ser lgbt.
Não tenha medo de ser quem você é. Pessoas vão te julgar, mas isso é comum, todo mundo é julgado até mesmo por existir, você ficar preso a julgamentos alheios te faz refém do medo. Se ame, ame quem você, ame a tua escolha.
Autêntica.
Em cada canto do planeta, em cada olhar que busca aceitação, em cada coração que pulsa por liberdade, está a essência da comunidade LGBTQIAPN+ - uma constelação de identidades, afetos e lutas que moldam o mundo com mais verdade, amor e diversidade. Esta notícia é um convite para conhecer, entender e acolher. Porque ser LGBTQIAPN+ é, acima de tudo, ser humano.